Trabalhar com a trilha sonora é para mim, sem sombra de dúvida, a parte mais divertida do processo de concepção do filme. É simplesmente muito bacana, ainda durante a decupagem das imagens brutas, você se pegar inconcientemente cadenciando os cortes dentro de uma melodia antes mesmo de começar a editar ou reconhecer uma letra que você que vê se encaixa perfeitamente com a sequencia lógica da história que você está tentando contar.
Mais lá na frente, durante a edição, eu tenho por costume condicionar a trilha de audio à de video mais do que o contrário. Uma música bem escolhida pode potencializar exponencialmente o poder de uma imagem ou arruinar um filme inteiro.
A idéias para as músicas começaram ainda durante a captação das imagens - como aquela coisa louca de "reflexo condicionado" ou sinestesia - você simplesmente vê as coisas acontecendo e começa a ouvir alguma coisa em sua cabeça.
Para o processo ficar mais palpável, eu coloco as possíveis músicas do filme em uma playlist e passo o dia inteiro ouvindo, repetidas vezes. No fim das contas não é nenhum exageiro terminar com uma lista de 30 a 50 músicas antes de filtra-las de verdade.
Não se trata de uma metodologia, seria mais pra uma obcessão doentia por querer fazer algo que me cative - parece presunçoso e arrogante, mas eu acho que me encaixo na concepção de arte de John Lennon de que a arte primeiramente é expressão daquilo que agrada ao autor. Não existe uma interpretação certa ou errada por parte do espectador (e a relevância disso é bastante relativa). Vale mesmo o autor ser feliz com o filho que pariu.
Mas estou tentando me policiar ao máximo pra trabalhar apenas com música brasileira nesse trabalho - principalmente os artistas que ainda não foram engolidos pelo mainstream e as grandes gravadoras. Não só por uma questão ideológica de valorizar os sabores da terra, mas pelo fato de que as pessoas se surpreenderiam com a qualidade absurdamente maravilhosa do que é produzido aqui.
Isso me lembra que preciso dar uns telefonemas pra o pessoal Trama.
